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11 de junho de 2016

AS CARTAS DE ANA CRISTINA CÉSAR


Quando a poesia encontra o oráculo, o mundo se abre. É um reflexo. A partir de 1975, a poeta carioca se dedicou a diversas traduções. Dentre elas está o livro do poeta, ensaísta e editor Alberto Cousté, publicado pela Editora Ground em 1977. Tarô ou a Máquina de Imaginar é um manual sobre a leitura de imagens baseado nas obras de importantes ocultistas franceses como como René Guénon, Paul Marteau e Éliphas Lévi. Escrito com clareza apaixonada sobre as imagens 'deste livro que pode ser todos os livros' o volume tem como mote a frase do também francês Oswald Wirth, proeminente divulgador do Tarô: "Adivinhar é imaginar com justeza". A partir dela Cousté especifica três abordagens de e para um estudioso dos arcanos: a mágica, a esotérica e, por fim, a poética. O símbolo é uma engrenagem do verso.

O Tarô conta a história de alguém que está procurando escrever a história do que não sabe. Obra-prima do pensamento analógico, a leitura dessa história é interminável: não só por seu caráter perpetuamente referencial, mas também porque cada leitura a transforma em outro livro cada que a consulta.

"As cartas/ não mentem/ jamais", como bem sabe a poeta no seu Pour Mémoire, de 1982: o livro de Cousté, que passa batido nas estantes dos sebos, já é um clássico. Tanto pela importância do autor quanto da tradutora, que fecha o livro com a sua versão impecável d'O Poema do Tarô, na íntegra a seguir.  Cada verso corresponde à essência de cada um dos 22 Arcanos Maiores.



1 Tudo anuncia uma causa de inteligência ativa

2 Afirma o número que é a unidade viva
3 Por que nada limita o que tudo contém

4 Antes ainda do princípio Solitário
está presente em toda parte
5 É o mestre único, o único adorável
6 Que revela aos limpos de coração o dogma puro, sim-
                                                                 [ples e verídico
7 E nomeia o único chefe que fará cumprir a sua obra
8 Pois não temos outro altar
nem há outra lei além desta para todos os homens
9 não mudará o Eterno seu pedestal jamais
10 Ele regula seus dias e a mudança dos tempos e os
tempos e o dia que nos toca
11 Rico em misericórdia, potente no castigo
12 Um rei ao seu povo dará no porvir

13 A tumba é a passagem para a terra nova
só a morte morre a vida é imortal

14 Este é o anjo bom que acalma e concilia.
15 O mau é este espírito de cólera e de orgulho
16 Mas Ele comanda o raio e faz brotar o fogo
17 A estrela matutina e a água obedecem a ele

18 Como um mudo vigia anda em nossos caminhos a
                                                       [lua que Ele coloca

19 e seu sol é a fonte onde tudo renasce
20 O sopro da sua boca germina entre as tumbas
0 ou 21 Onde habita o rebanho calado dos mortos
21 ou 22 Coroou o céu com o propiciatório
               mais alto que os anjos se vê planar a sua
               glória.

Fico pensando na obrigação de traduzir um livro sobre Tarô. Penso em uma poeta traduzindo um livro de Tarô. Na relação de uma poeta com o Tarô. Na relação desta poeta o Tarô. Independente de ser um livro nada falado pela classe esotérica atual — embora bem popular há quase 40 anos atrás — este livro merece releituras frequentes. Um livro fundamentado "na desconfiança das definições; e em homenagem à reiterada proposta do imaginário."

O presságio na língua de Ana C.
O livro. O Mundo.


AOS TEUS PÉS, UM CONVITE



Na quarta edição de La Garçonière, o poeta Leo Chioda lerá O Poema do Tarô, escrito pelo ocultista francês Éliphas Lévi em 1855 e traduzido por Ana Cristina Cesar para o livro Tarô ou A Máquina de Imaginar, de Alberto Cousté. Os convidados poderão viver uma experiência com a arte do Tarô por meio de uma performance oracular associada à poesia. Imperdível.