28 de dezembro de 2009

PÍLULAS DA BEM-AVENTURANÇA

ou A Saga do Herói no Tarô


O herói é alguém que deu a própria vida por algo maior que ele mesmo.




Há dois tipos de proeza do/para o herói. Uma é a proeza física, em que ele pratica um ato de coragem, durante a batalha, ou salva uma vida. O outro tipo é a proeza espiritual, na qual o herói aprende a lidar com o nível superior da vida espiritual e retorna com uma mensagem. O herói evolui à medida que a cultura evolui. É o feito típico do herói - partida, realização, retorno.



Na Idade Média, uma imagem predileta, que ocorre em muitos, muitos contextos, é a da roda da fortuna. Existe o eixo da roda e existe a borda da roda. Por exemplo, se você estiver preso à borda da roda da fortuna, você estará ou acima, no caminho descendente, ou abaixo, no caminho ascendente. Mas se estiver no eixo, você estará no mesmo lugar o tempo todo, no centro. Este é o sentido do voto de casamento - eu a aceito na saúde ou nada doença, na riqueza ou na pobreza: no caminho ascendente ou no descendente. Se eu a tomo como o meu centro, minha esposa é a minha bem-aventurança, não a riqueza que possa trazer-me, não o prestígio social, mas ela, em si. Isso é que é perseguir a bem-aventurança. Estamos vivendo, o tempo todo, experiências que podem, ocasionalmente, conduzir a isso, uma breve intuição de onde está nossa bem-aventurança. Agarre-a. Ninguém pode dizer-lhe o que será. Você precisa aprender a reconhecer a sua própria profundidade.



Nossa vida desperta o nosso caráter. Você descobre mais a respeito de você mesmo à medida que vai em frente. Por isso é bom estar apto a se colocar em situações que despertem o mais elevado e não o mais baixo da sua natureza. Chamar alguém de herói ou monstro depende de onde se localiza o foco da sua consciência.


Joseph Campbell
O PODER DO MITO

23 de dezembro de 2009

ARCANO INCONFIDÊNCIA

Estudo atribuído a Aleijadinho para a fachada da
Igreja de São Francisco de Assis.


ROMANCE XLVIII
OU DO JOGO DE CARTAS

Grandes jogos são jogados
entre a terra e o firmamento:
longas partidas sombrias,
por anos, meses e dias,
independentes do tempo...

Soldados e marinheiros,
camponeses e fidalgos,
ministros, gente da Igreja,
não há mais ninguém que esteja
fora dos vastos baralhos.

Batem as cartas na mesa,
na curva mesa da terra.
Partida sobre partida,
perde-se renome ou vida:
mas a perdição é certa.

Lá vêm corações em sangue,
lá vêm tenebrosos chuços:
defrontam-se ouros e espadas,
saltam coroas quebradas,
morrem culpados e justos.

Batem as cartas na mesa...
Cruzam-se naipes e pontos:
não se avista quem baralha
esta confusa batalha
de enigmas, quedas e assombros.

Grandes jogos são jogados.
E os silenciosos parceiros
não sabem, a cada lance,
que o jogo, fora de alcance,
pertence a dedos alheios.

Mesas de Queluz cobertas
de ouros, paus, espadas, copas...
(Minas, sangue, sofrimento... )
No baralho bate o vento
e o jogo segue outras voltas.


Cecília Meireles
Romanceiro da Inconfidência

1 de dezembro de 2009

PÉROLA DA PRUDÊNCIA


REI DE ESPADAS
Paulina Tarot


"Esteja sempre ao lado da razão e com tal firmeza de propósito que nem a paixão comum, nem a tirania o desviem dela. Poucos cultivam a integridade, muitos a louvam, mas poucos a visitam. Alguns a seguem até que a situação se torne perigosa. Em perigo, os falsos a renegam e políticos a simulam. A razão não teme contrariar a amizade, o poder e mesmo o seu próprio bem, e é nessa hora que é repudiada. Os astutos elaboram sofismas sutis e falam de louváveis motivos superiores ou de razões de Estado. Mas o homem realmente leal considera a dissimulação uma espécie de traição e preza mais ser firme do que ser sagaz. E se encontra sempre ao lado da verdade. Se diverge dos outros, não é devido à sua inconstância, mas porque os outros abandonaram a verdade."

Baltasar Gracián
A ARTE DA PRUDÊNCIA