31 de janeiro de 2008

NOSSA NOVA CONSCIÊNCIA



Transformar emoções e experiências em notas e crônicas pode, muitas vezes, ser um árduo trabalho. Acabo tecendo comentários, descrevendo lugares, associando imagens e realidades, que é vivenciar os momentos e depositá-los na sagrada caixa de memórias que temos dentro do coração. Comigo é assim, principalmente quando saio de casa e sabendo que vou encontrar novos significados, novos destinos.


Desembarcando em João Pessoa, como Marcelo, Alexsander e Gian.
O primeiro deles foi a Paraíba. É lá, na terra do “Maior São João do Mundo”, que também acontece o maior encontro de crenças, de artes, de cores e de conhecimentos. O Encontro para a Nova Consciência é um grande reduto de cultura e comunhão de ideais que conta com figuras místicas e agnósticas, representantes de instituições científicas, pesquisadores, músicos, cantores e abordagens de temas atuais, como o aquecimento global e a intolerância religiosa.


Depois da caminhada, a magia foi compartilhada.

Toda essa mistura acontece durante dias de Carnaval na saudosa Campina Grande, pertinho de João Pessoa. Acredito que a energia humana, que pulsa mais forte no período das folias, abastece cada pedaço do país – influência positiva regada à música, à alegria, à descarga de preocupações e às danças típicas. “Somos abençoados”, me pego pensando no dia da abertura, ao som celestial que Marsicano oferece. “Nos abençoamos”. E já que estamos todos interconectados, é uma sorte podermos rumar até o extremo do nosso mapa e fazer parte de uma caminha macro-ecumênica, de receber leves toques na mente sobre nossas atitudes e ainda tomar certeza de que somos irmãos uns dos outros, em meio a palmas, orações, cânticos, mantras, tambores, chocalhos, incensos e abraços.


Danças e vozes, de todos para todos.
Essa dádiva, que ocorre há 17 anos, tem sido uma missão. Senti na pele esta verdade – a correria da equipe de produção, pessoas solícitas, simpáticas, verdadeiras e de sorriso aberto, prontas a lhe ajudar; a comodidade dos transportes que nos levavam até nossos locais de palestras, o atendimento e a solução rápida de pequenos atrasos e desencontros ocasionais; gente preocupada com horários, gente por trás das cortinas que providenciava o funcionamento do som e imagem e até mesmo gente com pressa para não perder nenhum dos temas e oficinas que foram oferecidas. Quando me entrevistaram, creio que consegui deixar nítida minha grande satisfação em fazer parte desta família, mesmo dizendo que ainda não me situei – pois é, ainda não caiu a ficha de que vivi tantos momentos legais com tantas pessoas interessantes.


No saguão do Titão, com Lu Ynaiah, Sandra Ayana, Alex e Marcelo.
Seria injusto, por outro lado, se eu não citasse os grandes amigos que fiz e os que reencontrei por lá. Bom, quando você coloca o lenormando Alexsander Lepletier e o mestre sem cerimônias Pedro Camargo numa mesa, eu garanto: não tem como permanecer sério. É risada na certa! Aliás, foram ótimos nossos jantares, ainda mais com Alexey Dodsworth e Luis Pellegrini, editor da eterna revista Planeta, até depois do expediente no restaurante italiano.


O suquinho do Pedro no Carne & Massa.

Me encontrei com o Gian Schmid na feira de artesanato, visitei a sala do Mahikari, conversei com os hindus, passei do lado das rezadeiras e até tomei um super café na sala-camarim. Depois troquei uma idéias com o Mob, abracei bem forte a Íris e selei contato com as meninas da van. Pensei até num tarô de cordel com o Marcelo Bueno, depois de rirmos várias vezes com a Sandra Ayana. Tudo isso regado à energia do grande Biliu e outros ícones da música popular nordestina, com palmas de todos os lados.


2º Encontro de Tarólogos, lá no Teatro Municipal Severino Cabral. 


Isso tudo, porém, não é um relato sobre o evento. É apenas uma parte das minhas lembranças que guardei na caixa de memórias aqui do peito. Uma Nova Consciência, que nos pede para derramar as águas do passado e reciclar conceitos e atitudes. E claro, meus mais sinceros agradecimentos e meus parabéns, com muitos anos de vida para todos nós e para o Encontro. Para o reencontro conosco.



E que a Estrela brilhe cada vez mais, hoje e sempre!


Forte abraço em cada um,




Leo



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18 de janeiro de 2008

TAROT CAFÉ NO CAFÉ TAROT



Achei o maior barato quando vi: uma taróloga, dona de uma cafeteria, faz leituras para criaturas fantásticas que precisam de auxílio em questões amorosas e misteriosas. Mil aventuras com direito a dragões, fadas, sultões, princesas e lobisomens. Este é o Tarot Café, um manwha da coreana Sang-Sun Park que invadiu o país nestes últimos meses.

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Assim que conheci a obra me senti no dever de escrever sobre ela. E claro, aproveitando para dizer que não existe nenhuma relação entre a HQ e o nome do blog, ao contrário do que pensam alguns visitantes fanáticos por ela. Até então eu não tinha notícia de um trabalho que se utiliza das cartas e de seus reais significados para contar uma história. O legal é que existe plena sintonia entre as tradicionais palavras-chave dos arcanos e a construção narrativa, que não é fácil de ser feita se não houver conhecimento prévio. Enquanto escrevo uma série de estudos sobre quadrinhos e tarô, vejo a falta de associações convincentes – nem sempre o tarô é retratado como objeto de trabalho e, ainda, como ferramenta de auxílio aos outros. Eis a exceção.



Bom, sobre a estética de Tarot Café, se você prestar atenção, vai perceber nítidas diferenças entre o mangá (traços bem trabalhados e agressivos) e o manwha, com sua aparente delicadeza. Manwhas são os quadrinhos que representam 25% das vendas no mercado de livros de seu país, a Coréia. Além de milhões de usuários, assinantes de quadrinhos online e outros milhões de leitores de webcomics gratuitos, tem sido visto como um fenômeno comercial que promete rivalidade aos mangás japoneses nos Estados Unidos. Aliás, é visível a influência norte-americana nos letreiros e nas revistas que os personagens manuseiam. São também pincelados alguns momentos da história medieval européia em que alguns baralhos já existiam. A pesquisa pode não ter sido primorosa aos olhos de um estudante sério de tarô mas convence, porque é entretenimento.


Entre os baralhos utilizados estão o Aquarian, o Secret, Art Noveau
e até o Visconti-Sforza da LoScarabeo.


IMPRÓPRIO PARA MENORS DE 14 ANOS”, diz a contracapa. Há controvérsias, pois mesmo os jovens podem não compreender a linguagem dos capítulos e a descrição dos arcanos de acordo com o enredo. Esse detalhe, eu opino, é o que mais valoriza a obra – a intenção de levar elementos reais (as cartas e seus conceitos, utilizados por milhões de pessoas em todo o mundo) ao mundo fantástico da imaginação que os quadrinhos permitem criar. Por outro lado, o público mais maduro pode considerar criativa a idéia, porém ridícula artisticamente. Não tem o estilo todo detalhado como dos gibis americanos (e japoneses, claro), com suas páginas cheias de riscos e cores. Um outro ponto importante é a homossexualidade sugerida em cada edição, mostrando um lado diferenciado da maioria das publicações. Amores e tristezas estampados nas cartas da protagonista Pamela.


Ressalto que, mesmo trazendo imagens vivas e o próprio uso do tarô como profissão – ou talvez como missão da personagem – o Tarot Café é uma história em quadrinhos com a função de entreter. Não serve para aprender tarô, mas com certeza tem despertado o interesse de muitos leitores ao redor do globo. Vale a pena lê-la, tanto pela pesquisa cultural quanto pela constatação de que o tarô é respeitado em um trabalho de ficção que atinge diversos tipos de público, sem falar no reconhecimento mundial.


Já volto com mais contatos entre tarô e quadrinhos.
Por ora, fique com o Tarot Café. Mas não esqueça do Café Tarot.
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TAROT CAFÉ é publicado no Brasil pelas editoras
LUMUS e NEW POP – São Paulo.