14 de fevereiro de 2009

CONTRARIANDO HAJO BANZHAF


Three of Cups - Pamela Colman Smith
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O mais conhecido tarólogo da Alemanha, autor de vários livros publicados no mundo todo, é um dos preferidos que consta na minha estante, justamente pela obra O TARÔ E A VIAGEM DO HERÓI, lançado por aqui pela Editora Pensamento. Na introdução do livro, Banzhaf faz um panorama da origem, da estrutura e da simbologia das cartas, abordando o famoso tarô de Marselha e o Rider Waite, desenhado por Pamela Colman Smith - esta última digna de atenção por enriquecer o universo tarológico ao ilustrar os Arcanos Menores.
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Mas relendo esse capítulo, estranhei pelo seguinte comentário sobre o 3 de Copas, que passou despercebido na primeira leitura: "Por mais bem-vindo que seja esse enriquecimento, ele não nos deve impedir de ver a grande diferença que existe entre as imagens que surgiram no curso dos séculos do inconsciente coletivo da humanidade - como podemos supor pelos Arcanos Maiores - e as ilustrações que foram imaginadas por uma pessoa, ainda que ela fosse uma pessoa tão genial. Por certo, uma imagem imaginada é útil para se deduzir um significado, porém ela nunca alcança o conteúdo e a profundidade simbólica de uma imagem arquetípica. Por esse motivo, é pouco produtivo ficar analisando os detalhes das imagens dos Arcanos Menores. Elas simplesmente ilustram um tema. Assim, a carta Três de Taças nos mostra a dança da colheita, como se pode reconhecer pelas frutas caídas aos pés dos dançarinos. Quem entende esse enunciado nas ilustrações sabe o que a carta quer dizer: um desenvolvimento teve êxito, houve a colheita, a pessoa é grata e está satisfeita. A carta não revela mais do que isso. Qualquer especulação a respeito do fato de uma das dançarinas calçar sapatos dourados, enquanto os sapatos das outras são azuis, ou que tipo de frutas ou vegetais estão presentes, é algo sem importância, quando não inútil."
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Muito bem, Hajo. Até certo ponto eu concordo com você. Mas dizer que um Arcano Menor desenhado simboliza apenas um significado específico é um tanto limitador, não acha? Certamente o 3 de Copas não significa apenas êxito na colheita e satisfação pela fartura. E no plano afetivo, quando alguns estudiosos afirmam traição iminente, o famoso triângulo amoroso, por exemplo? Existe desenvolvimento favorável nisso? Ou uma conclusão definitiva? Duvido muito.
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Não puxo a sardinha pra brasa da Pamela ou do Waite e de ninguém que utiliza os baralhos inspirados no da dupla revolucionária. O que vale é a leitura da imagem. Limitar uma interpretação por meio de um conceito como esse é um desrespeito à profundidade da figura, independente de quem a concebeu. E é absurdo pensar que a imaginação de uma artista não se utilize de símbolos para compôr seus desenhos. Aliás, não é a imaginação uma ferramente essencial para a decodificação? É sim, desde que não hajam viagens homéricas na maionese, burlando a estrutura da carta em sua essência. Quem disse que imaginar não faz parte do ofício oracular? Quer dizer que nos meus cursos, quando chego na abordagem dos Menores, devo dar apenas duas ou três palavrinhas sobre o significado de cada um deles? E numa tiragem sofisticada, como na casa 8 do Mandala Astrológico, acompanhado da Temperança, por exemplo? O problema estaria em definir até que ponto uma figura é imaginada e onde é o campo arquetípico do inconsciente, então?
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Bom, as Copas respondem por si. A releitura, no seu mais amplo significado, é sempre válida.
E os sapatos podem indicar várias coisas, garanto.
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Leo