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8 de outubro de 2011

O MAGO DA MAÇÃ



A matéria de Arnaldo Bloch n'O Globo me deixou mais aliviado diante do genuíno endeusamento que Steve Jobs tem sofrido desde quarta-feira com a notícia de sua morte. O mundo virtual desabou em lágrimas. Mas o endeusamento é sempre traiçoeiro. Importa que cara era bom. Mexeu de jeito na máquina do mundo. No cotidiano do homem. E só quem tem um Apple, por menor que seja, é que sabe do milagre que existe ali. Mesmo assim, todo o cuidado com o burburinho paga-pau. Menos, né? Menos.


O Mago Jobs elevando um dos seus trunfos (!): o iPhone.

Pensando nas analogias possíveis com o oráculo, o fato é que Jobs foi o verdadeiro Papa da revolução tecnológica. No tarot, a verdade é que ele se enquadra no frame do O Mago. Sim, porque quem inova primeiro é justamente o primeiro arcano. E a partir disso, da criatividade que ultrapassa o verbo é que ele se distingue do quinto elemento Maior, o eleito e amado pelo povo sob diferentes primas e circunstâncias. Não agrada a todos. Aliás, quem agrada? Os elementos do grande batelleur são combinados ritualisticamente para alcançar o topo d'O Mundo. E isso, inegavelmente, Steve Jobs conseguiu com todo o trabalho possível e impossível digno de qualquer alquimista sério e empenhado na busca pela sua pedra filosofal, lindamente personificada numa maçã. A menina dos olhos da tecnologia contemporânea. Que tal? Magia maior não há.


E o Mago Smith-Waite com o símbolo máximo do bendito fruto.

Nascido em 24 de fevereiro de 1955, o Arcano da Vida desse pisciano foi a Roda da Fortuna, que ajuda a vislumbrar a rapidez com que criava e inovava. E também com que partiu dessa existência. A Unidade face à Diversidade. O eixo responsável pelo movimento. Agente imbatível de expansão e consolidação das ideias. Uma mente privilegiada ou um aplicativo sempre atualizado. Teve a seu favor, de acordo com a configuração da sua constelação tarológica, os quatro Ases e os quatro 10 dos Arcanos Menores. Viu brotar, ao lado das janelas de Bill Gates, as suas próprias sementes. E recentemente sofreu na pele o próprio fim. Triste. Mas nem por isso deve vir a ser martirizado, como todo bom ser humano costuma fazer tanto com quem morre cedo quanto com quem se destaca além do imaginado. Ou as duas coisas, neste caso.


Montagem disseminada pelos usuários do Facebook.

Não existe uma religião da maçã. Não e não. O high tech existiria normalmente sem Steve, que se foi tão cedo. Recebidos os devidos méritos, eu o mantenho próximo ao prestidigitador. O fruto evolui. E diante das críticas ao capitalismo violento, Jobs também tem seu pedestal reservado. É criticado e massacrado pela produção e necessidade que os golpes de marketing da marca desferem nos clientes quase que na mesma proporção em que é amado, reconhecido e divinizado devido à facilidade e à beleza dos seus inventos e à sua filosofia de vida, cujas frases bonitas pululam hoje pelo facebook. Par a par com os axiomas de Sócrates e de Da Vinci. Excelência no engajamento criativo. Mas endeusamento pra quem é morto já é um golpe baixo. Como se defender?

Bom é manter a atenção no que ele fez, ponto final. Quem passa imune? Não, nem mesmo você que nunca tocou num iPod. Olhos no palpável, com os devidos cuidados. Cada um faz o melhor que pode e alguns vão além. As maçãs não vão parar de brotar.




Think different,


L.

4 de fevereiro de 2011

TRABALHANDO COM O JULGAMENTO




Há alguns dias recebi um e-mail bastante verdadeiro de uma leitora.
Clara* é mãe de dois filhos, trabalha e não tem marido. Comentou do contato com o Tarot e com a Astrologia que mantém há 20 anos, do jogo de cintura para dar conta do trabalho e da doença do filho e ainda da dificuldade em se abrir para um novo romance, uma nova empreitada pessoal. Para entender melhor o momento, Clara escolheu um arcano. Veio O JULGAMENTO. Alegou que não tinha encontrado muita coisa aqui no Café e me pediu algumas palavras para meditar um pouco.

Pois bem. O Julgamento. Desde 2005 tenho desenvolvido uma prática bastante eficaz para o treinamento da intuição: O TRABALHO COM O ARCANO, ou DIÁLOGO COM O ARCANO. Nesses seis anos pude vislumbrar a pluridimensionalidade de cada um por meio da conversação e da meditação, ouvindo as vozes e as mensagens tão certeiras e precisas. Mas sempre, claro, com os pés no chão. Sem nenhum tipo de devaneio esquisotérico que me jogue longe da coerência simbólica e pessoal. Aliás, incoerência é o que tenho visto por aí com a maioria dos interessados no assunto se mostrando verdadeiros consumistas de baralhos bonitinhos e diferentes, abarrotando as redes sociais com informações vazias e achismos sobre o que um arcano faz ou deixa de fazer. Mas isso é outro assunto.

Surgite ad judicium. É prudente trazer o arcano pra você, Clara. Mesmo já respondido o seu e-mail, fiquei pensando que a sua experiência com o Tarot poderia lhe ajudar a entender melhor o que este arcano escolhido exige de você e também o que ele lhe oferece. Primeiro, analise a imagem. Para "abri-la", é preciso familiarizar-se com ela. O trabalho começa quando você se dispõe a lê-la, a ouvi-la. Como um livro repleto de figuras, em que a narrativa está plasmada nas cores e formas. Pense num arcano isolado como uma página crucial para o entendimento do livro.

O que vem primeiro à mente? A imagem fala, o que você ouve?

Intuitive Tarot, Cilla Conway.

O Renovador, o Renascimento, o Juízo... Anote tudo o que a figura está mostrando e parta depois para o que você sente, que é um passo da interpretação. Ela exige, num primeiro momento, uma postura emocional ainda mais forte e confiante de que tudo pode ser extremamente positivo e diferente daqui pra frente. Você acredita em você? Então está na hora de reconhecer e respeitar a sua intuição. Respire fundo sempre que tiver alguma folga. Sinta o seu corpo. Sinta o seu coração batendo. Atitudes simples como essas lhe ajudam a redefinir contato com você mesma. Sem esse contato, sem aceitar a si mesma, incondicionalmente, nada funciona bem. Reconheça o seu corpo, aceite o amor e abrace as novidades. Unir o Céu e a Terra: um equilíbrio possível entre adversidade e descanso, prazer e esforço. É o que O Julgamento lhe traz de início.

O TRABALHO COM UM ARCANO é uma técnica poderosíssima de diálogo, de interação e sobretudo de humildade diante dos arcanos como mestres. Lá na
Revista tenho mostrado a intrínseca relação entre a imagem e o leitor, que somos nós - tarólogos ou consulentes. É importante também, durante uma consulta, deixar que a pessoa veja e/ou toque as cartas escolhidas, mesmo se não tiver nenhum conhecimento do assunto e estiver interessada apenas nos resultados. É difícil tentar definir a variedade de efeitos que uma imagem pode surtir no inconsciente humano, mas o contato é sempre necessário. É assim que podemos perceber nossas próprias fábulas e nossas alegorias mais secretas sobre nós mesmos. A sabedoria e a bem-aventurança vêm daí.



Sei que a mensagem foi positiva para você, Clara. Continue com ela. Um arcano é inesgotável, como a vida em todas as suas páginas. Com o maior respeito e gratidão, desejo que o seu caminho seja repleto de significado e verdade.

Leo



__________________________
* Nome fictício.

29 de março de 2010

UNA BELLA DOMENICA



Estou morando em Perugia, na Itália. Aqui a vida é do jeito que eu gosto, com seus horários, tempos vagos pra preencher com caminhadas, estudos e trabalho no conforto que me é concedido. Vim também com a intenção de pesquisar e garimpar material sobre tarô pra acrescentar uns temperos a mais no que se anda produzindo no Brasil.

Confesso que os meus compromissos e também a fotografia consomem tempo demais pra me dedicar especificamente a essas ideias. Mas existe a fúria. E existem os acasos e as surpresas, que me fazem ainda mais feliz nesta terra tão capricorniana já enraizada no meu peito.



Outro dia tive um sonho: viajava até San Marino, onde existe a loja física da Alida Store pra comprar um Minchiate Fiorentine, um dos tarôs mais cobiçados pela minha pessoa. Dias se passaram e eu pensei em como usaria o baralho quando o tivesse mesmo em mãos, levando em conta que são 97 arcanos.

Ontem, passeando pela feira de antiguidades no centro histórico, parei pra ver os livros velhos numa bancada. Claro que o primeiro título que me veio à cabeça foi o procuradíssiimo I Trionfi de Petrarca, um documento precioso pra quem estuda o tarô. Me assustei quando vi uma caixa dourada do Visconti Sforza. Uma edição bonita e bem manuseada, do jeito que o meu signo gosta. Mas fiquei arrepiado quando vi uma outra ao lado, toda vermelha. Sim, caros. Era um Minchiate! Quase soltei um "cazzo!" em voz alta, mas me contive. Peguei e pedi pra me deixar ver as cartas. Todas inteiras, maço completo.



"Quanto viene? 12?" - perguntei, cuidadoso, por não entender o preço na etiqueta.
"No, 10 euro!" disse o vendedor, um verdadeiro sózia de Salvador Dalí.

Fiquei mais eufórico ainda! Não, não foi nada surreal, foi um momento de conquista. Anos e anos de procura que acabaram ali, em três minutos de contagem das lâminas, de pagamento e de 'Grazie a te'. Continuei passeando em busca da famigerada criação de Petrarca, tomando o melhor sorvete do planeta e muito grato pela surpresa que a Itália me fez. A vida é bela. Mais ainda com esses pequenos detalhes.

Abbraccio,

Leo

9 de agosto de 2009

SOPHIE CALLE - carta para você


Sophie recebeu uma carta de rompimento.


E não sabia respondê-la.

Era como se ela não lhe fosse destinada.

Ela terminava com as seguintes palavras: “cuide de você”.

Sophie levou essa recomendação ao pé da letra.

Convidou 107 mulheres, escolhidas de acordo com a profissão,

para interpretar a carta do ponto de vista profissional.

Analisá-la, comentá-la, dançá-la, cantá-la. Esgotá-la.

Entendê-la em seu lugar. Responder por ela.

Era uma maneira de ganhar tempo antes de romper.

Uma maneira de cuidar de si.



2009 é o ano da França no Brasil. Acordos políticos são feitos, programas culturais negociados, o Airbus 447 caiu e os laços entre as duas nações se estreitam. Um amarrado ao outro – por comunhão, por afinidade, por arte, por tristeza, por cortesia, por beleza. Essa rima não foi previamente pensada, assim como não foi esperado o sucesso da exposição Prenez soin de vous da artista francesa Sophie Calle, que da Bienal de Veneza ganhou porto em São Paulo.

Sophie Calle e o telefone criado para ela pelo arquiteto americano Frank Gehry.

Meu primeiro contato com Sophie Calle foi no ano passado, durante o curso de francês. A Label France, publicação do governo que traz notícias da França em língua portuguesa, publicou a notícia do sucesso da artista contemporânea no país e, pelo que me lembro, anunciava sua passagem pelo Brasil. Gostei muito da ideia. Se para alguns (ou a maioria, talvez) Calle não passa de uma doida que não soube digerir um fora, para outros (a minoria, portanto?) sua obra é encantadora por ser a reprodução da realidade, da sua íntima realidade nas mãos de estranhas e também de amigas que manuseiam sua vida amorosa e daí são fotografadas, anotadas, filmadas. Mulheres que respondem por ela.


Os painéis ininterruptos de interpretações.

No âmbito das Letras francesas, Calle se destaca pela interdisciplinaridade – suas explorações, que misturam fotos com escrita e vídeos com músicas transformam o seu relacionamento (ou melhor, o seu rompimento) afetivo em metalinguagem. Meta arte.


A clown Meriem Menant e uma das paredes da instalação.

Mas se Sophie autoriza as interpretações de sua carta, me proponho aqui neste espaço a dar meu parecer. Pelo tarô, é claro. Não pelo e-mail em si, mas pela repercussão, pela obra, pela pessoa. Sophie diz: “Não exponho minha intimidade. Minha obra é sobre textos, imagens, instalações. Náo é um diário ou um blog.” Atitude do segundo arcano maior, A Sacerdotisa. Realmente nada se sabe do relacionamento com o escritor Grégoire Bouillier. Tanto que ela o identifica como X. Apenas o que ELE relata na carta, disponível a todo e qualquer visitante da exposição, é que dá repertório pra imaginar o caso amoroso. Ela, por sua vez, deixa sem resposta a questão “o que é realidade e o que é ficção”.


Prenez soin de vous no Pavilhão Francês da Bienal de Veneza.

"Eu pinto minha própria realidade", dizia a polêmica Frida Kahlo. É exatamente o que a também polêmica Sophie declara. Diante desse enigma tão bem trabalhado, acaba sendo impossível não associar a performance de Calle às cartas. Não por ter convocado a taróloga Maud Kristen para um das interpretações, mas por ser nítido o casamento entre imagem e texto – a captura do real para o papel. Aliás, tudo derivou do papel em cuide de você, como num baralho, que abre possibilidades a uma pessoa. Do simbólico para o real. Genial. Original.


A atriz portuguesa Maria de Medeiros,
conhecida por interpretar Anaïs Nin em Henry & June.


Em vez de sofrer, ironiza: “sou uma artista”. Mesmo apelidada de “Duchamp da roupa suja emocional” pelos britânicos, Sophie não desmorona. Ela combina recursos, tempera conceitos, funde mídias. É o arcano 14 em seu melhor ângulo.




E dessa mania de transformar pés na bunda em instalações e livros, de ser voyeur das próprias experiências narradas para o mundo, sobrepõe-se a exposição do outro, do desconhecido. Aliás, Sophie (sabedoria) Calle (rua) é a própria sabedoria da rua. Auspicioso, não? Seguir um homem de Paris até Veneza por dois meses (tarefa inusitada digna do Arcano Sem Número) e anotar seus passos em papel e em pixels e como montar um quebra-cabeça no escuro. Ou então escrever uma peça sem conhecer os personagens. Ou trabalhar com o tarô. Esgotá-lo, se é que isso é possível. Fazemos isso quando deitamos as cartas: descobrimos o outro para compor um pedaço de nós mesmos. Lemos as emoções e pensamentos para entender os nossos. Um curta-metragem no papel. Uma parede em branco com telas ininterruptas de movimento. Interpretações.


Maud Kristen sentindo a carta.


Bom, por falar nelas, a mais óbvia que me chama a atenção é a de Maud Kristen. Pra quem não sabe, ela é uma das médiuns mais famosas e respeitadas da França. Atende empresas, presta consultoria paranormal, atua como clarividente e é autora de alguns livros como Filha das Estrelas, publicado no Brasil pela editora Pensamento e Tarot of Eden ao lado da artista plástica Alika Lindberg – baralho que ilustra sua coluna na obra de Sophie Calle.

Kristen é uma profissional interessante, dedicada e ambiciosa: afirma querer usar a intuição, as artes divinatórias e a mediunidade de forma “oficial” em processos de decisão tanto pessoais quanto coletivos. É bastante íntegra ao interpretar o e-mail destinado à Calle, expondo motivos e segredos de X. Kristen coloca o texto à sua frente, embaralha suas cartas e deita-as viradas para baixo. Depois, escolhe cinco delas, organiza-as em cruz e pergunta: O QUE ESTÁ POR TRÁS DESSA CARTA?



Olhemos as cartas. Elas são desfavoráveis.


Um velho de capuz sozinho com sua lanterna. Em sua solidão desencantada, não há muito lugar para o amor. ESSAS NÃO SÃO AS PALAVRAS DE UM HOMEM FELIZ, POR CAUSA DO EREMITA.


Atormentado por animais, ele tateia cegamente para tentar encontrar seu caminho... Morbidamente instável, ele é como um graveto ao vento. ESSAS NÃO SÃO AS PALAVRAS DE UM HOMEM ESTÁVEL, POR CAUSA DO LOUCO


A IMPERATRIZ – ELA CONTROLA A RETÓRICA. Foi com a colaboração da Impatriz – protetora dos escritores – e a destreza que ele tem com a linguagem que ele conseguiu compor essa carta.



Lobos uivam para a Lua frente ao reflexo ilusório de uma mulher nua na água... Estamos entre mentiras e ilusões, entre o medo do espelho e a fascinação narcisista, entre a confusão e a complacência. ESSAS NÃO SÃO AS PALAVRAS DE UM HOMEM SINCERO, POR CAUSA DA LUA.

ESSAS NÃO SÃO AS PALAVRAS DE UM HOMEM ADULTO E LIVRE, POR CAUSA DO ENFORCADO.


A parede de Kristen na instalação de Veneza.

A conclusão da tiragem de Maud Kristen é que "nenhuma das cartas fala do desejo, amor ou lembranças. Em confronto com a confusão da LUA, a distração e a poligamia do LOUCO, o cansaço, a lassidão e o desinteresse pelos outros do EREMITA, o desespero suicida do ENFORCADO, ele tenta através da IMPERATRIZ fazer um último esforço para explicar. O que está por trás dessa carta é pior do que o que ela diz. É a carta de um homem que está desesperado, ameaçado, que teve que fazer um grande esforço para conseguir dizer alguma coisa."

Maud Kristen e Sophie Calle na Galeria Emmanuel Perrotin.
Foto de Lisbeth Carre.

Eu gosto da explicação de Kristen. Por um lado é divertida, como tudo o que Sophie Calle faz. Por outro, parece que enaltece a Imperatriz com atributos “positivos” – por ser a única mulher do jogo, talvez? Não gosto de dar palpites em tiragens, a menos que eu seja convocado para isso. Mas a interpretação da profissional francesa, por integrar a exposição de Calle, tornou-se arte também. Está emoldurada numa parede branca e então propensa a qualquer tipo de reação dos visitantes e dos entendidos no assunto. Por ser um deles, fico feliz em saber que o tarô é uma ferramenta artística de valor terapêutico indiscutível que ressalta a importância de “cuidar de você”.

E é por isso mesmo que não poupo tempo para dizer que a Imperatriz é a própria Sophie – a que protege o escritor e é a dona da banca. Melhor dizendo, a que projeta o escritor, o tal autor do e-mail, Grégoire Bouillier.

A cara do livro a cara do convidado surpresa.

E também é o próprio Louco aquele convidado surpresa que caiu na teia de lençóis de Sophie. Memorialista francês, Grégoire é um escritor “lento”. Demorou para chegar às livrarias – característica do Eremita que ilustra a disposição de Kristen – e deixou registrado o relato da festa em que conheceu a sua ex, a própria Calle. A Lua, carta dos problemas afetivos, das discussões e dos malefícios causados pelo e por amor, seria a construção imaginária do confronto desse ex-casal na Festa Literária de Paraty, Entre Quatro Paredes.


Sophie e Grégoire na Flip 2009.

É lá que a Duchamp contemporânea lava a roupa suja e o autor da carta se defende, rebate e faz as pazes com a mulher discreta que sabe até onde é capaz de divulgar sua vida pessoal. Ou então vira amigo da mulher promissora regida pelo arcano 3 do centro do jogo, que dá a volta por cima. Mas é, ainda, o Enforcado. Já pensou visitar uma mostra derivada de um simples fora que você deu em alguém? Nunca desconfiei da capacidade das que levam esse nome grego. Sabedoria personificada até nos momentos de fossa.


O que me excita mesmo é que as interpretações continuam inesgotáveis.
Da carta e das cartas.


cuide de você.




L.


VIDEOS PARA VOCÊ SENTIR

Saraiva Conteúdo – Sophie Calle
http://www.youtube.com/watch?v=3OpTa5t72Po&feature=related

Jornal da Gazeta – Sophie e Greg na Flip
http://www.youtube.com/watch?v=EfIahKEepBY&feature=related

Saraiva Conteúdo – Grégoire Bouillier


PÁGINAS PARA VOCÊ INTERPRETAR

Sophie Calle

Cosac Naify
www.cosacnaiff.com.br


10 de julho de 2009

6 de abril de 2009

ITÁLIA FULMINADA

Acordei cedo, tomei meu... leite da manhã e acessei os jornais online pelo notebook. Sem falar das iminentes implosões estomacais graças ao santo café de todo dia, a semana começou em tragédia pros italianos. Digna de arcano XVI, pra ser mais específico. Terremoto de magnitude nunca vista antes, o fenômeno causou perdas memoráveis: de vidas e de obras arquitetônicas.



Triste analogia, eu sei.
Muito triste.


Leo

5 de novembro de 2008

A ONDA DO NOVO IMPERADOR


Estava nas cartas: campanha da escritora e taróloga Kris Waldherr.

A vitória veio dia 4 de novembro, dia do Imperador. É sempre bom lembrar que esse é o número da ordenação do mundo material e do exercício político – são quatro os cantos da Terra, são quatro os anos de um mandato e são quatro as virtudes cardeais que um governante deve desenvolver, disseminar e aprimorar constantemente ao longo de sua gestão (justiça, prudência, temperança e força). Aliás, é o dia de Barack Obama, nascido no dia 4 de agosto de 1961, puramente leonino que se impõe, fazendo jus ao arcano de seu dia.





O Imperador Barack Obama: leonino, ígneo, líder.

Até a posição das pernas do desenho formam o número, dando a entender que ele não só conhece com a mente mas também compreende de modo mais básico, arraigado, as responsabilidades que incorpora como portador da consciência humana, afirma Sallie Nichols, a comentadora jungiana mais famosa entre os tarólogos.

Ah, e são quatro os elementos que coordenam e dirigem o universo. Falando nos Estados Unidos, fala-se também desses elementos unidos, de arcanos sintetizados – O Mundo, óbvio. Símbolo da maior realização que o tarô pode apresentar, esta carta congrega toda a estrutura do baralho. Um espelho em que se reflete e se resume toda a organização espacial e simbólica possível. Posso ver claramente a figura central, alegoria da anima mundi, como a famosa Estátua da Liberdade que, quando era apenas um conceito abstrato, ganhou uma iconografia de acordo com as circunstâncias políticas em mutação – assim como as cartas de tarô têm mudado de acordo com o talento dos artistas e com a visão de mundo dos tantos idealizadores.


O Mundo de Frieda Harris e a Liberdade americana.
Mais que uma imagem, mais que uma estátua.

E esta Liberdade, rodeada de poderes, deve iluminar a nação, o que permite uma aproximação estética ao nono arcano maior, O Eremita. Aliás, Obama é o que acorda os antigos exemplos de democracia, de sonho e de realização. Não está sozinho. Com o apoio incondicional de celebridades, políticos e da comunidade negra como um todo, seu sucesso nas urnas era previsível. Ouvi comentários astrológicos de que venceria um representante de minorias: ou Hillary, por ser mulher (já que são poucas os nomes femininos no poder), ou Obama, que dividiu e isolou a opinião pública como o favorito da vez. Falando em poder, destaca-se a torcida mais que notável da apresentadora de TV mais famosa que existe: Oprah Winfrey.



Michelle fica por trás. Por enquanto.

Eleita uma das 100 pessoas mais importantes do século 20 pela TIME, ela é a Imperatriz americana que abre o bolso quantas vezes forem necessárias pelo novo presidente. É a primeira negra bilionária da história de mãos dadas com o primeiro presidente americano negro. A América é negra. O mundo é negro.




Os Imperadores e a Terra Prometida. Hora de sonhos e ideais se tornarem realidade.
Tarot Visconti-Sforza.



"I have a dream."
Considerado o político pós-Martin Luther King, Obama impõe a erradicação das diferenças. É a tentativa de mudança da mentalidade da nação mais poderosa do planeta por meio de sua própria imagem – o negro que alcançou o pódio. O fim de uma era de trevas para um renascimento.



Com o fim do governo Bush, a chama se mantém acesa.
Arte de Alex Ross e estampa da campanha Obama 2008.


“Yes, we can!” Várias são as teorias místicas sobre a vitória de Obama, o messias que eu exponho ao Sol. A promessa, o divino, a mudança.

O Sol de Crowley e o Sonho da América.



TRÊS ARCANOS PARA OBAMA
POR MARTIN LUTHER KING


A Justiça
“Sonho com o dia em que a justiça correrá como água e a retidão como um rio caudaloso.”

O Julgamento
“As pessoas oprimidas não podem permanecer oprimidas para sempre.”

A Estrela
“Com esta fé nos poderemos cortar da montanha do desespero uma pedra de esperança.”




Estrela que renova.



“Que de cada localidade, a liberdade ressoe.”
Eis o sonho americano - o arcano Barack Obama.



Leo

16 de julho de 2008

180 ANOS DE JABOTICABAL


Amanhecendo velha, firme e forte.

Não, eu não nasci em São Paulo. Nem na Itália, mesmo que meus antigos tenham vindo lá dos arredores de Cremona. Sou jaboticabalense, conterrâneo da Piovani e de alguns outros que aparecem por aí. Confesso que foi morando fora, de uns tempos pra cá, que comecei a sentir essa cidade. Sentir falta, sentir prazer em voltar pro seio dela e sentir saudade, até. Sou ligado em raízes. Ingrato aquele que maldiz seu berço geográfico, por pior que seja. Se não fosse por ele, não haveria graça em buscar os sonhos longe, na metrópole ou no estrangeiro. As distâncias diminuem e o coração vaga, sem medo de ir embora depois que chega. E eu dou um rumo à cidade, mesmo que particular. Nas minhas andanças imagéticas. Pelas minhas cartas de tarô.
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O método é simples. Abro o leque e ponho cinco arcanos sobre o mapa da cidade. A força simbólica da carta terrestre é a mesma que a das lâminas: se tenho as ruas, avenidas e pontos principais de um município, fica fácil fazer o trajeto de análise. Ou, literalmente, uma rota de leitura, como diria minha amiga Zoe de Camaris. Cada posição corresponde ao monumento ou localização a que me refiro, de modo que se monte uma espécie de mandala.

A seguir, um resumo simples da leitura-homenagem.


CARTA-CHAVE: 10 DE OUROS
Ano de eleição, ano de mudanças. É assim que este arcano rege o jogo: alertando para as finanças, os projetos, a família, as riquezas da nossa terra.


POLÍTICA: 7, O CARROA carta do ano para Jaboticabal, pela soma tradicional da data de nascimento, é o sexto dos maiores, Os Amantes. Antecedendo a carta do Carro, ilustra as relações sociais, as decisões políticas e, sobretudo, as escolhas da população. É a mensagem de que o progresso chegará de vez à cidade. Cautela na hora de votar.

DESENVOLVIMENTO: 9 DE PAUS
Suado, muito suado. É com esforço que se chega lá, não? Será assim durante mais um ano. Novos estabelecimentos, planos em prática e defesa de interesses será grande. É bom descansar bastante quando se pode, pois o bicho pega e o batente espera, como sempre.


SAÚDE: 16, A TORRE
A Torre quando sai para uma cidade – principalmente quando pousada sobre seu mapa – sugere desastres, demolições, implosões ou mesmo “desconstruções”. Nesta posição, indica a ruptura de atendimentos ou a não-melhora dos serviços públicos referentes à saúde. Um toque muito importante aos candidatos.


COMÉRCIO: 20, O JULGAMENTOO comércio revoluciona este ano, é só parar e prestar atenção. Várias estabelecimentos sendo abertos – bares, lojas, espaços culturais – e também reformados, reestruturados para manter a beleza dos antigos. Renovação.


CONSELHO: PRÍNCIPE DE PAUSO conselho à população é ter garra! Pode parecer clichê, mas é a ordem é ir atrás daquilo que almeja sem esmorecer. Afinal, não existe mérito autêntico sem esforço, seja ele qual for. Ousadia, perseverança e bola pra frente. A cidade, o coração e a vida agradecem.
E eu agradeço. Pela passado, pela estrutura, pela liberdade.
Parabéns, Jaboticabal.

Te amo.


Leo