28 de abril de 2010

QUATRO MULHERES DE NINA SIMONE



Quase me esqueço e deixo passar. Foi num dia 21 de fevereiro que ela veio e num 21 de abril que deixou o mundo. Ela, o arcano 2 da música negra. O título não é meu; era e ainda é conhecida assim. Firme na luta contra o racismo, apanhava da vida.



Rainha, além disso. Rainha no plural, quatro vezes. Basta sentir “Four Women”, escrita por ela na década de 60 para denunciar a tristeza das mulheres negras. Foi proibida nas rádios americanas por ser considerada um insulto à raça. É, não me pergunte o porquê. Mas para Nina, a força desses arquétipos cantados fez com que ela não parasse mais. Uma Papisa sempre debruçada sobre seus propósitos, tecla por tecla. Carregava, em cada célula, um pouco das quatro Rainhas. Um naipe a cada nota. Até emprestou a voz ao enterro de Martin Luther King, numa época de preconceito, de perigo e de muito medo.

Sob a égide d´A Justiça, Nina não cantaria; lutaria com outras armas.
Ao invés disso, encarnou a tonalidade mais forte da sábia com o livro - várias as páginas em que escreveu igualdade, respeito e amor. Morreu dormindo em casa, na França. 70 anos completos de performances e figurinos. De sereia que assusta. Yeah, I put a spell on you.


FOUR WOMEN / N I N A S I M O N E




My skin is black
My arms are long
My hair is wooly
My back is strong
Strong enough to take the pain
Its been inflicted again and again
What do they call me
My name is Aunt Sarah



My skin is yellow
My hair is long
Between two worlds
I do belong
My father was rich and white
He forced my mother late one night
What do they call me
My name is Siffronia



My skin is tan
My hairs alright, its fine
My hips invite you
And my lips are like wine
Whose little girl am I?
Well yours if you have some money to buy
What do they call me
My name is Sweet Thing




My skin is brown
And my manner is tough
Ill kill the first mother I see
Cos my life has been too rough
Im awfully bitter these days
because my parents were slaves
What do they call me
My name is Peaches





Forever,
little one.

Peace,



L.


P.S.:
Andaram me perguntando como se começa a ler o tarô. Respondo: lendo imagens, lendo pessoas, lendo música. É só fazer um esforço, com o mínimo de criatividade. É, pode-se pensar que uma vida é sempre pouco para compreender todo esse mapa dividido em 78 partes, assim como é pouco para lutar por uma causa, com tanta injustiça e covardia por aí - e me vem agora Nina cantando It´s cold out here. É interpretando essas figuras, no sentido teatral do termo, que se encontra a humanidade. Depois - esperamos - a consciência se encarrega do resto.

22 de abril de 2010

A COMPANHIA

QUEM TEM MEDO DO ARCANO 13?

Todo mundo, né? Ah, é sim.
Lá no fundinho, no cotovelo da alma, você também tem.


Aqui na Itália tenho pensado bastante nisso. No clichê da transformação, então, nem se fala.
Tenho medo de avião cair, sim, fazer o quê? Mas sempre voo sem problemas, entrego minha vida à sensatez dos pilotos. Segurança, aonde nesse mundo? E pra quê? Mas há um prelúdio para a morte, por assim dizer. Não só prelúdio, mas uma das verdades absolutas da vida: a solidão.



E do arcano 9, ninguém tem medo?
Opa, se duvidar até mais.
Alone in your own. Ou a sabedoria dos anos lhe confere uma companhia agradável? Bom, o senhorzinho encara o esqueleto, não tem medo. Joga luz aos ossos. Ambos da mesma altura. Olho no olho. Reconhecem, com as corcundas do tempo, que são irmãos tão próximos, tão naturais. E me sentir velho, com a configuração astrológica que carrego e ainda mais nessa terra, é só o começo pra trabalhar essas noções. Ah, essas máximas...

Qual a relação que vocês têm com a Morte? E com o Eremita? Me lembro que desmaiei três vezes (por motivos e em dias diferentes) enquanto escrevia um artigo sobre a Sem Nome. E vou guardá-lo ainda por mais um bom tempo.

Fiquem bem.


L.

2 de abril de 2010