8 de fevereiro de 2007

O Desenvolvimento do Imaginário

Alejandro Jodorowsky




O Tarô é um sistema que se constrói essencialmente com a imaginação. Ela introduz voluntariamente enigmas, distorções de formas, deixa alguns aspectos voluntariamente inacabados, recusa-se a acentuar alguns traços, faz sair os desenhos do quadro, rompe a simetria e coloca detalhes invisíveis a olho nu.
Os arcanos possuem o poder de evocar, por associação, outras imagens. Por exemplo, se observarmos a perna esquerda do personagem da Estrela, poderemos ver o avesso de um menino.

Na margem inferior da Lua, à esquerda da carta, aparece a cabeça de um dromedário, talvez. Isso tem, por objetivo, funcionar como uma atividade semi-onírica.

O investigador imagina o resto do desenho além do retângulo, em cada um dos arcanos maiores. A mesa do Mago se dá num triângulo. Quais outros elementos ela possui? Como é o seu quarto pé? Há um término da mesa ou é infinita? E o pé que se introduz no centro da mesa, até onde vai? Ao centro da Terra? Tem raízes? Comunica-se com o mundo subterrâneo? Até onde vai a parte amarela do chapéu que se
perde no céu? Como continua seu formato? O que toca o cotovelo do braço esquerdo? O que ele está olhando? Como é o resto da paisagem?

Imediatamente, a imaginação se ocupa de responder os enigmas que se encontram na carta.
O cinturão pode ser uma serpente? As mechas brancas podem ser de alguma luz do chapéu ou qualquer coisa que emerge de sua cabeça? O que o Enforcado segura em suas mãos? Esconde uma arma? Um livro secreto? Têm os punhos algemados, cortados?
Quais as energias que estão contidas na Torre? Que encontramos em seu interior? As chamas saem de dentro dela ou entram? É fogo? Uma entidade? Um ruído? Como é o corpo do personagem nu? Que há por trás do véu da Sacerdotisa?

O condutor do Carro é um príncipe, um hermafrodita, um anão sobre uma cadeira? Tem a potência dos dois cavalos? Ele está dirigindo?
Teria o Carro raízes? As colunas chegam até o céu? Os rostos sobre seus ombros falam? De onde vieram? Até onde vão?
O Eremita levanta uma lamparina cheia de sangue?





Alejandro Jodorowsky é cineasta, escritor e dramaturgo. Restaurou o Tarô de Marselha em parceria com Philippe Camoin, mestre em cartas e descendente do último tipógrafo do baralho. Além de seus filmes e trabalhos envolvendo a “Psicomagia”, mantém sua rotina intelectual escrevendo histórias em quadrinhos (destaque para Bórgia, de Milo Manara), novelas e obras para o teatro. Nasceu em 1929 no Chile e atualmente vive em Paris.


Que tal esfregar as cartas na pele?
Volto já, com mais uma tradução.

Zeke

3 comentários:

Anônimo disse...

Olá.

Quando se olha para determinado objecto, frase, gravura, fotografia o cerebro humano processa de forma imediata toda a informação e descarta toda aquela que não tem utilidade para a suas necessidades, a isto se chama inibição latente.

Esta inibição varia de individuo para individuo sendo muitas vezes associada à criatividade e ao desenvolvimento do imaginário.

Dai que muitas pessoas sejam capaz de ver coisas que as outras pessoas são até que lhes seja despetada a sua atenção.

a imaginação tambem pode estar asociado a outro fenomeno, conheces os testes na qual a uma pessoa é pedido para dizer o que lhe parece uma imagem, quando ela(a imagem) é na realidade uma mancha de tinta. Quando isto acontece a interpretação pessoal destes estímulos ambíguos o indivíduo revela o seu modo particular de estruturar o mundo, a sua personalidade.

Se ele ve um menino na perna da senhora, ou um dormedário na carta da lua, não sei propriamente o que significará em termos de personalidade, mas certamente é algo que merece a nossa atenção e curiosidade, para descobrir um pouco mais.

Anônimo disse...

Olá Zeke!!!
Falo te de Portugal...gostei mt do teu blog....mt mesmo, tb sou um fanático do Carnivale e ultimamente tenho pensado em comprar cartas e aprender o mundo maravilhoso do Tarot!!! Sou tb grande fã do jodorowsky, o destaque vai para ele...alguma dica futura para uma sã aprendizagem??? abraço Português!!

Zoe de Camaris disse...

...sabe, acho que dominaremos o mundo, Pink (rs). E viva a nova geração de tarólogos que nada tem a ver com esquisoterismos mas sim com o mundo em que a gente realmente vive.

Continue escrevendo. No mínimo, o tarot nos abre portas para que a gente fale sobre o que quiser.