são as tentativas mais puras do Universo.
«Olha-os, e não os mates.»
Maria Gabriela Llansol
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Galeria Real: de quem você mais gosta?
E de quem não gosta nadinha?
Bom, jogo rápido. Ando aprimorando um exercício que considero absolutamente importante para lidar com as cartas da Corte e também para traduzi-las em nós mesmos: a escolha do Arcano Significante. Vi pela primeira vez a menção há alguns anos no livro Understanding the Tarot Court*, assinado por Mary Greer e Tom Little, publicado pela Llewellyn. Embora seja apenas incentivada a escolha do Arcano Sombra, decidi ir mais a fundo na ideia de perseguição desse arcano indesejado e confesso que tem sido revigorante entrar em contato com o melhor e, principalmente, com o pior de mim. Incorporar o mais inofensivo ou insignificante [termo inevitável] integrante da realeza é um exercício de reflexão e transformação quase instantâneo. Bem apropriado para leigos e tarólogos.
Pegue o tarô que você mais gosta e retire as 16 cartas reais do resto do maço. Disponha e organize todas elas com as faces para cima, de modo que você possa ter um panorama bem nítido do mosaico de personalidades.
Esqueça as posições, os cargos, as nomenclaturas e até mesmo o gênero. Escolha a pessoa que mais lhe atrai, a carta que mais lhe "chama" neste momento. Este é o seu Significante, ou seja, o arcano que muitos usam em leituras para representar o consulente. Mas por que este arcano específico? Pronuncie suas qualidades e o motivo por tê-lo escolhido.
Agora escolha a carta que você MENOS gosta, a mais desinteressante, sem graça. Feia, até. E atenção aos motivos. Profira a razão por tê-la escolhido. Pronto? Esta carta é sua Nêmesis.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjriCfGwMOc7moBjw8MbBWeO5OKJbaRdE3LLp5FjWkRCLYxriRyBtZpjgKW-MzblZadA224dLTQ8NOqI9gyv6rMwLXjfTtKzQ03tMV7BaqnbIvvrblPuffVfQcs_pTZo976rFcu/s400/nemesis_by_tattarescu.jpg)
Nêmesis, pintura do romeno Georghe Tattarescu (1820-1894).
Nêmesis? Sim, a deusa grega da indignação, famosa por atributos mal dignificados. Apesar de vir da estirpe dos deuses trevosos, vive no Olimpo figurando a vingança divina. Filha de Gaia e irmã de Têmis, foi criada e educada por Cloto, Láquesis e Átropos, as famosas Moiras. Enquanto Têmis vem a ser a personificação da ética, Nêmesis acaba sendo a da vingança. Em outras versões do mito, difundidas por publicações neopagãs, por exemplo, Nêmesis surge como Adrasteia, a inevitável, por ser a divindade da retribuição.
Na obra O Livro e o Baralho Wicca*, de Sally Morningstar, a deusa aparece retratada como a portadora das lições, cuja visita (o surgimento da carta em alguma leitura) sugere que o leitor está tendo suas atitudes e intenções observadas por ela. A representação é agradável e até serve ao propósito: Nêmesis é o arcano que lhe persegue. O que você evita ver no espelho e jura de pés juntos que não tem nada a ver com você. As baixarias do show, as manchas no seu currículo interno.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgWylgTz6xDKx-DZ4X0O_wIZFMdM_UwTmFo1MuGnJW3NEXr8bVF9a66ODKT5hPWGbB7ie8S7QpYYe4995rd7BPSGei9wRM8Qcbr-8RkZScW4FEeaKcQEmaGCOVGgQr_tHqZAmxb/s400/N%25C3%25A9mesis.jpg)
Nêmesis pintada por Danuta Mayer
integrante do Baralho Wicca, de Sally Morningstar.
Face your fear! Fazendo uma menção bastante digna [pelo menos para quem gosta de videogames e filmes de monstros], Nêmesis é a máquina mortífera que persegue a policial Jill Valentine por Raccoon City que por sua vez persegue zumbis. Não há escapatória a menos que a moça encare de vez a criatura programada para destrui-la. A referência a Resident Evil foi inevitável também. Até porque jogos eletrônicos reconfiguram alegorias e instauram mitologias entre gráficos renderizados e o deleite constante do expectador.
Na verdade, esse sério trabalho com a sua personalidade ilustrada pela Nêmesis demonstra responsabilidade para com sua própria sombra. Bem-aventurado o que enfrenta a horta de desagrados internos, não? O modo como você aborda esta carta é crucial para reconhecer comportamentos absurdamente perversos e também algumas atitudes ridículas que podem ser transmutadas por meio de uma postura cada vez mais coerente com o seu autoconhecimento. Conviva um pouco com a sua Nêmesis. Indo além da ignorância você pode achar o antivírus para os padrões mais nocivos de existência. Refletir é a matéria e o ofício principal dos arcanos. Ainda mais quando é a sua imagem nesses espelhos.
Pegue o tarô que você mais gosta e retire as 16 cartas reais do resto do maço. Disponha e organize todas elas com as faces para cima, de modo que você possa ter um panorama bem nítido do mosaico de personalidades.
Esqueça as posições, os cargos, as nomenclaturas e até mesmo o gênero. Escolha a pessoa que mais lhe atrai, a carta que mais lhe "chama" neste momento. Este é o seu Significante, ou seja, o arcano que muitos usam em leituras para representar o consulente. Mas por que este arcano específico? Pronuncie suas qualidades e o motivo por tê-lo escolhido.
Agora escolha a carta que você MENOS gosta, a mais desinteressante, sem graça. Feia, até. E atenção aos motivos. Profira a razão por tê-la escolhido. Pronto? Esta carta é sua Nêmesis.
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Nêmesis, pintura do romeno Georghe Tattarescu (1820-1894).
Nêmesis? Sim, a deusa grega da indignação, famosa por atributos mal dignificados. Apesar de vir da estirpe dos deuses trevosos, vive no Olimpo figurando a vingança divina. Filha de Gaia e irmã de Têmis, foi criada e educada por Cloto, Láquesis e Átropos, as famosas Moiras. Enquanto Têmis vem a ser a personificação da ética, Nêmesis acaba sendo a da vingança. Em outras versões do mito, difundidas por publicações neopagãs, por exemplo, Nêmesis surge como Adrasteia, a inevitável, por ser a divindade da retribuição.
Na obra O Livro e o Baralho Wicca*, de Sally Morningstar, a deusa aparece retratada como a portadora das lições, cuja visita (o surgimento da carta em alguma leitura) sugere que o leitor está tendo suas atitudes e intenções observadas por ela. A representação é agradável e até serve ao propósito: Nêmesis é o arcano que lhe persegue. O que você evita ver no espelho e jura de pés juntos que não tem nada a ver com você. As baixarias do show, as manchas no seu currículo interno.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgWylgTz6xDKx-DZ4X0O_wIZFMdM_UwTmFo1MuGnJW3NEXr8bVF9a66ODKT5hPWGbB7ie8S7QpYYe4995rd7BPSGei9wRM8Qcbr-8RkZScW4FEeaKcQEmaGCOVGgQr_tHqZAmxb/s400/N%25C3%25A9mesis.jpg)
Nêmesis pintada por Danuta Mayer
integrante do Baralho Wicca, de Sally Morningstar.
Face your fear! Fazendo uma menção bastante digna [pelo menos para quem gosta de videogames e filmes de monstros], Nêmesis é a máquina mortífera que persegue a policial Jill Valentine por Raccoon City que por sua vez persegue zumbis. Não há escapatória a menos que a moça encare de vez a criatura programada para destrui-la. A referência a Resident Evil foi inevitável também. Até porque jogos eletrônicos reconfiguram alegorias e instauram mitologias entre gráficos renderizados e o deleite constante do expectador.
Na verdade, esse sério trabalho com a sua personalidade ilustrada pela Nêmesis demonstra responsabilidade para com sua própria sombra. Bem-aventurado o que enfrenta a horta de desagrados internos, não? O modo como você aborda esta carta é crucial para reconhecer comportamentos absurdamente perversos e também algumas atitudes ridículas que podem ser transmutadas por meio de uma postura cada vez mais coerente com o seu autoconhecimento. Conviva um pouco com a sua Nêmesis. Indo além da ignorância você pode achar o antivírus para os padrões mais nocivos de existência. Refletir é a matéria e o ofício principal dos arcanos. Ainda mais quando é a sua imagem nesses espelhos.
Enfrente[-se].
E bons sustos,
L.
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*
GREER, Mary K. LITTLE, Tom. Understanding the Tarot Court.
Special Topics in Tarot. Llewellyn, 2004.
MORNINGSTAR, Sally. O Livro e o Baralho Wicca. Ilustrações de Danuta Mayer.
São Paulo: Editora Pensamento, 2002.
6 comentários:
Salam, Leo. Estou lendo um livro que assusta, justamente por falar d'Ela, Sombra. Ctônica.
Chama-se "O Lado Sombrio dos Buscadores da Luz", de Debbie Ford (Cultrix). Medonho.
Leio um capítulo, escondo-me debaixo da cama, de um bicho papão que, paradoxalmente, dizem que mora lá.
Capítulo a capítulo, vou descobrindo que a casa dele é minha casa também.
Vamos com cartas, agora. Me sentindo em casa... De vez.
Emanuel, no universo binário em que vivemos, quanto maior a Luz, maior a Sombra. É fato.
Leo, amei, amei... mas agora que li o artigo, será que terei isenção na hora de escolher os Arcanos?
Catártico! Parabéns e obrigado por compartilhar.
Understanding the tarot courts... Um must read
Ótimo texto, Leo! Foi, com certeza, o tarô que me ajudou a ter consciência do meu lado sombra. A perfeita mídia de autoconhecimento, as janelas da nossa alma. Aquilo que a gente não quer ou não consegue ver, ele mostra. Bjus
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