11 de outubro de 2011

SOB O SOL DA INFÂNCIA


A Criança Divina de Pamela Smith e Arthur E. Waite.


______________________________________
O artigo seguinte, tira-gosto de um extenso capítulo de livro em já produção [e que você não perde por esperar], veio logo depois da publicação do ILUMINANDO SUA CRIANÇA INTERIOR, na Revista Personare. Clicando AQUI você o lê na íntegra para entender melhor essa postagem. Ou, se você já foi até lá, encare esta postagem como práticas e reflexões complementares. Boa jornada!
____________________________________

Numa recente entrevista, me perguntaram quando é que eu comecei com o Tarô. Respondi que não comecei com ele, que ele é que começou comigo, há muitos e muitos anos. Minha avó tinha uma amiga cartomante que vinha em casa destrinchar o destino dela com aquelas velhas cartas coloridas. Fazendeiros ricos e mulheres de cabelo preto saíam bem costurados nas predições daquela mulher. Hoje, nem a minha avó nem a cartomante e nem as figuras [suponho] existem mais. Ou melhor, existem. Dentro de mim, como num filme encontrado pela metade, que termina justamente quando a reunião de mulheres me expulsava do cômodo da leitura. E até mesmo essa criança que eu fui, cujas lembranças já se parecem com um sonho de duas semanas atrás, existe aqui dentro de mim. Teve uma vez em que decidi me reencontrar com ela. E foi absolutamente mágico. Se há alguma verdade nas técnicas de visualização e projeção, é essa: você é a chave para você mesmo. E o que encontrar aí dentro é tão novo como se nunca tivesse acontecido. Mas também pode ser dolorosamente repetitivo, triste e carregado como uma situação ruim. 

Resgatar a infância é possível e nos faz crer que o que somos é uma construção contínua: paredes de traumas, pisos e tetos de alegrias e risadas e também escadarias milimetricamente feitas de medo. Você já abraçou uma criança? Essa experiência é única na vida, ainda mais quando ela é você mesmo. Acredite, é possível.


SEUS ÁLBUNS, SEU ORÁCULO

E se eu dissesse que existe um arcano esquecido dentro de você? Pois é, existe. E você pode encontrá-lo. E mais de um até, se você tiver atenção e olhos firmes às lembranças. Fotografias antigas funcionam como cartas de Tarô: são imantadas de poder por retratarem nada mais do que nós mesmos. Reveja alguns dos seus álbuns. Certamente existem fotos arcanas dentro deles. Seus próprios mitos, portanto, que você nem se dá conta de que existem e vigoram.



O Mago, desde pequeno remexendo a imaginação na terra. Promessa de Ouros
Tarot de Marseille - Grimaud



Dialogar com essas imagens é mais do que terapêutico. Proporciona um encontro genuíno com o que foi deixado para trás. Negligenciar a saúde emocional de uma criança é triste, mas perdoável quando tomamos responsabilidade pelo que fomos um dia. É como tirar o próprio Pinocchio de cena quando se lê o livro. Não seria mais Pinocchio, já que a fábula não procede sem ele. Temos essa oportunidade de revalorizar nossa própria história e nem nos damos conta! O que sempre vale é a vergonha das roupas, das poses e dos momentos em família que lutamos para esquecer, não é mesmo? Grande engano nosso. O passado é mais vivo do que nunca, tão mutável quanto o presente e o futuro. Sem ele, dificilmente uma leitura de Tarô procede. A narrativa da vida é passível de revisão assim como o futuro pode ser vislumbrado e programado, até certo ponto.



Galopando com o destino no carrossel de estrelas.
Tarot de Marseille - Camoin Jodorowsky


O Tarô é um brinquedo. Antes e depois de tudo. Serve para brincar, como diz Johann Heyss no livro O Tarô de Thoth. Sua natureza lúdica serve de engrenagem ao imaginário, ressaltando que as 78 cenas nasceram e se valem dele. Fazer de conta que cada figura humana que elenca as cartas é uma criança num mágico parque de diversões, com cavalos, esfinges e outros seres fantásticos que povoam a nossa imaginação é também uma metáfora poderosa para a nossa condição de leitores de imagens e consulentes, por consequência. O estudo dos símbolos, aliado à nossa criatividade, tonifica o poder de reflexão e transformação do oráculo. Por quê misturar os fluidos das ânforas n'A Temperança? O que tem dentro do cálice maravilhoso d'A Rainha de Copas? E o livro no colo d'A Sacerdotisa, qual é? Tem figuras? Mostre o Tarô a uma criança e faça essas perguntas. A ingenuidade simbólica é também um caminho para a maestria. D'O Louco aos quatro Reis de si mesmo, conferindo sabedoria e intuição cada vez mais notáveis.


A Criança Divina do Druidcraft Tarot, de Philip Carr-Gomm
Arte de Will Worthington


O exercício que propus no artigo da Revista Personare tem como base o décimo-nono arcano marselhês. Mas em todo e qualquer Tarô [que se preze], O Sol corresponde a esse portal que possibilita o contato e a narrativa constante com a sua criança interna.

Aliás, qual é a história da sua infância?
Pergunte ao Tarô, esse mapa colorido que você tem em mãos. Tire três cartas (a clássica configuração das infinitas combinatórias) e analise o que você vê. Experimente, não tenha medo. Mas se tiver, não pare. O escuro pode sempre receber alguma luz vinda de você.


E eu sei que vai ser radiante.



Leo

12 comentários:

Cårdoso Jr .'. disse...

Leo...
Que trip é essa de fazer analogia de arcanos com passagens da sua infância...?

BRILHANTE como o sol mano.

Parabéns!

Unknown disse...

Engraçado isso do "Tarot é um brinquedo". É mesmo...
Sabe aquele sentimento gostoso que a gente tinha quando ganhava um brinquedo novo? Então eu sinto isso quando eu compro um deck novo... e quando escolhemos um para ficar na bolsa, na mochila? É como escolher qual dos meus ursos ou bonecas eu ia levar para brincar, fora de casa...

Brincar com as cartas...
Contar histórias...
Tudo faz parte... um pouquinho... um montão... há mt tempo =)

Emanuel disse...

Leo, dá a mão aqui... Vamo brincar de cartear?
Fantástico texto, mano. Foi no osso da questão. Viver Arcanos é brincar com eles - a vida é um jogo, não é?
Um abraço!

NannySouza disse...

Radiante, brilhante... ILUMINADO...
Lindo e profundo o texto Léo.
Bjossss

Luciana Onofre disse...

primeiro: q criança linda!!

amei as dicas, e me fizeram relembrar muitas coisas, já soterradas...

bjs!

Ercília Moaris disse...

Parabéns Leo, mais um texto maravilhoso. Linda forma de nos despertar para mais uma perspectiva de lidar com o Tarô. Vou incentivar mais esta "brincadeira".
Beijinho

Sarah Helena disse...

Impossível não pensar no André e seu tarô de gnominhos. De vez em sempre ele me pede "vamos brincar de tarô".

E vc escreveu a melhor definição que eu já li na vida sobre infância. (a saber, rs, "paredes de traumas, pisos e tetos de alegrias e risadas e também escadarias milimetricamente feitas de medo.")

Tetê Macambira disse...

Engraçado: há um arcano que sempre me representa nas tiragens. Pensei na minha foto favorita de eu criança. E a semelhança com o arcano é latente.

Tetê Macambira disse...

Engraçado: há um arcano que sempre me representa nas tiragens. Pensei na minha foto favorita de eu criança. E a semelhança com o arcano é latente.

Tetê Macambira disse...

Engraçado: há um arcano que sempre me representa nas tiragens. Pensei na minha foto favorita de eu criança. E a semelhança com o arcano é latente.

Humberto disse...

Leo, adorei seu texto!!! É muito bom saber que a criança interior é apenas uma criança e que criança!!!

Patrícia Pastore disse...

👏👏👏